O Sr. Arrumador, a gorjeta e as bananas

A necessidade de estabelecer contacto com os outros é uma necessidade intrínseca à condição humana.

Todos precisamos de atenção! A necessidade de estabelecer contacto com os outros é uma necessidade intrínseca à condição humana. O distanciamento entre as pessoas que tanto se faz sentir nos dias de hoje é próprio de vidas que se consomem num ritmo demasiado acelerado para ver além de nós e do pequeno circulo de pessoas com quem lidamos diariamente.

Todos nós, nas grandes zonas urbanas, nos deparamos com a dificuldade de estacionar e com os arrumadores de rua! Sempre que me dirijo para o meu local de trabalho por carro, estaciono num parque de estacionamento que ainda não está sinalizado com parquímetros. Ainda sabe bem não ter este custo adicional, que não é assegurado pelo empregador.

Sempre que estaciono o carro naquele parque cruzo-me com o mesmo Sr. Arrumador e, dia após dia, é criada esta relação entre a “minha pessoa” e um “Sr. Arrumador”. Nem sei o seu nome nem se tem licença para exercer a sua função.

No início senti aquela obrigatoriedade de contribuir de forma monetária, cheguei a dar um euro para colmatar os outros dias da semana que não tinha vontade de procurar por uma moeda na carteira. Mas, sempre pensei que dar uma moeda é contribuir para uma gestão enganosa, para a desgraça e para a prática ilícita que é condenável por outros.

Por vezes, a vontade de dar é superior ao cumprimento com um “Bom Dia” e com uma simples questão “Como está?” e, nestas alturas quero estacionar e sair repentinamente do parque. Simplesmente para conseguir chegar o quanto antes ao local de trabalho.

No entanto, depois de muitos dias a pensar no dilema de dar ou não a gorjeta, surgiu o dia em que a olhar para o porta-moedas verifiquei que não tinha forma de contribuir para o Sr. Arrumador, que me olhava com aquele ar a querer dizer que eu estava em falta. Mas como regularmente levo a minha marmita para o trabalho, lembrei-me da minha peça de fruta… uma banana é o que eu poderia dar ao Sr. Arrumador.

Ele ficou apreensivo, mas apressou-se a dizer-me que gostava de bananas.

Este episódio repetiu-se inúmeras vezes. Houve dias em que, o Sr. Arrumador tomava a iniciativa e me questiona “Tem a minha bananinha?”, esta, tem sido a minha substituição à gorjeta!

Passei a dar-lhe a banana diariamente e já me lembrei de lhe dar um cacho de bananas à segunda-feira, para estacionar o carro, nos outros dias da semana, sem pensar na forma de contribuição todos os dias da semana. Será que faço isso? ou devo dar algo mais do que a banana?

Recentemente não trouxe a banana e disse ao Sr. Arrumador – Quer um iogurte? ao que me respondeu “Ah… também gosto!”

Um dia dou-lhe a minha marmita… antes da sinalização que me obriga ao pagamento do aluguer do local/tempo, onde estaciono o carro naquele parque de estacionamento! Será que um dia esta relação de ajuda será quebrada?

Autor: HUCILLUC

Aqui e Ali entre momentos festivos e caricatos, convive-se. Aqui e Ali sente-se, lê-se, leva-se tudo ou talvez nada!

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