#5 – Vão numa … Pão de Forma … Ups!

Em viagem de autocaravana! Podemos dormir, passar férias e fins-de-semana em qualquer sítio e a qualquer momento decidir partir sem preocupações de alojamento.

Almoço terminado, fome saciada, conversa sentida, roteiro até agora cumprido … hora de seguir viagem em direcção ao nosso destino.

Os nossos amigos Luís e Carlota Santos vão numa carrinha Pão de Forma, atrás de nós, em fila indiana. Estes nossos amigos são um casal incrível, ele tem 39 anos e ela 41. São nossos companheiros de outras viagens, óptimos para conhecer novos sítios e adoram aventuras. Com eles a boa disposição reina e contagiam os demais. É muito fácil viajar com eles, são tolerantes e flexíveis, bem-humorados, excelentes convivas e parceiros de viagem. Tentamos ao máximo estar em grupo mas nada impede de se programar um passeio separado, ninguém precisa de ficar 24 horas por dia juntos. A confraternização fica para mais tarde sem qualquer azedume ou constrangimento de alguma das partes, numa salutar convivência.

É sexta-feira. Na estrada sente-se a excitação de um fim-de-semana alargado. Vamos devagar, não temos pressa de chegar e queremos usufruir das vistas quer a bordo da nossa “Vana” (diminutivo de autocaravana) quer a bordo da “Bimbo”, nome de uma marca de pão de forma (comestível).

As crianças deliram com a “Bimbo”, uma carrinha laranja torrado, cheia de pinturas coloridas, da Volkswagen, dizem que tem estilo e sempre que vão na Pão de Forma dão pulos de contentamento. Gostam de dizer aos amigos que vão fazer uma “road trip” na Bimbo, acham o máximo.

Completamente restaurada e transformada num carro-casa, ou melhor, numa tenda de campismo ambulante mas com rodas, inclui um chuveiro de campismo, um fogão tipo camping gaz, uma mesa de picnic e outros acessórios, não esquecendo uma cama para dois e os famosos sacos cama. Tudo feito por eles. Eles adoram bricolage e pintura, por isso andam sempre a restaurar e do velho fazem novo.

A decoração no seu interior, bastante colorida e criativa, é inspirada na série de desenhos animados “A carrinha Mágica”, uma série que conta as aventuras de uma professora e as peripécias que os seus alunos vivem, e que a Carlota devorava em pequena. Como ela costuma dizer quando se refere à sua meninice: “sentia-me a viajar pelo espaço, ou no interior do corpo humano, até debaixo de água se andava, era um apelo ao meu imaginário e ao mesmo tempo didático, pois aprendia sempre qualquer coisa”.

Adquiriram-na há cerca de 5 anos e desde aí não mais pararam. Descobriram que podem dormir, passar férias e fins-de-semana em qualquer sítio onde gostem de estar, a qualquer momento podem decidir partir sem preocupações de alojamento. Usufruir desta liberdade, pôr e dispor a seu belo prazer é fundamental para um estilo de vida muito próprio.

Em certa medida, são eles os responsáveis por comprarmos, a nossa “Vana”, já lá vão dois anos. É uma carrinha tipo familiar com capacidade para 5/6 pessoas. Tantas histórias nos contaram sobre as suas viagens que nos aguçaram o apetite, não é tão ornamentada quanto a deles mas tem o essencial, inclusive um chuveiro separado da casa de banho.

Tínhamos decidido antes de iniciar esta viagem, com 5 adultos e 2 crianças, em duas carrinhas, que iriamos poupar dinheiro tanto no transporte como no alojamento. Quanto às refeições essas seriam efetuadas nas localidades por onde passávamos para conhecer e desfrutar a gastronomia local – gozar um fim-de-semana em pleno sem trabalho culinário, é sempre fantástico. Ainda que a “Vana” estivesse equipada com um fogão de dois bicos e um pequeno frigorífico, mesa, cadeiras, enfim todos os equipamentos e utensílios próprios de um “estúdio”.

Diz-nos, apesar da tão pouca experiência, nestas “road trip” que procurar um lugar ideal para estacionar não se adivinhava tarefa fácil, por isso fez-se o reconhecimento da região e recolheram-se dados para não haver surpresas. Não nos podemos esquecer que em certos locais as autocaravanas não podem circular, por falta de espaço ou transito a mais, por isso há que pensar em alternativas.

Abastecemos os reservatórios de água potável antes da partida mas sabíamos que tínhamos de reabastecer de novo e fazer as descargas necessárias, “ao fim e ao cabo”, desculpem-me a redundância, o consumo de água em função do número de pessoas, para os banhos-duche, lava-loiças e sanitários ainda era elevado, por muito que se fizesse uma boa gestão do seu uso.  

Tendo isso em linha de conta, quando programamos a viagem uma das nossas grandes preocupações era saber se no local do destino existiam parques para autocaravanas e quais as infraestruturas que ofereciam. Já os nossos amigos, com a sua “Bimbo”, são muito práticos, fazem as necessidades fisiológicas nos cafés das localidades. São só dois, não tem crianças e a “Bimbo” mais pequena que a nossa “Vana”, mas com espaço q.b., circula facilmente por qualquer lado. Menos uma preocupação para este casal que tem adiado a “instalação” de uma casa de banho … e depois!? Em caso de urgência tem o mato ou utilizam a nossa cassete sanitária.

Entre pesquisas, localizamos um em Terras de Bouro – o Pichoses Camping, um parque de campismo com área de serviço e de pernoita para autocaravanas, que dispunha do que precisávamos: ponto de conexão para abastecimento de água potável e descarga de água suja, bem como abastecimento de água e energia elétrica. Outra opção, o Parque de Campismo de Cerdeira, situado no coração do Parque Nacional da Peneda-Gerês, ótimo para um fim-de-semana com crianças, que tinha sido recomendado por um outro casal amigo, e que segundo eles era um parque que já tinha sido distinguido várias vezes por ter boas práticas ambientais e sociais.

Entardecia muito rapidamente, a viagem já ia longa, o cansaço instalou-se e tínhamos decisões a tomar … Era a primeira noite da “road trip”.

O fumeiro!

Momento memorável na Bina – Cozinha Regional em Vimioso, é muito bom constatar que as tradições mais genuínas perduram  nos dias de hoje.

Numa manhã de Inverno, no norte do nosso país, procurámos por umas alheiras da terra. Queríamos produtos regionais e artesanais, experimentar uma nova sensação de sabores feitos pelas pessoas com carinho e gosto em servir os outros.

 

 

Encontrámos uma senhora tão carinhosa que nos mostrou o local do fumeiro. Fiquei espantada pela obra de arte de cada peça e sabia que era um espaço acolhedor onde o calor que se sentia junto à lareira me fazia permanecer e ouvir as palavras sábias de quem trabalha diariamente na sua casa. Após a nossa compra de quinze alheiras, mais salpicão e chouriços fomos convidados a comer uma alheira, um pedaço de entrecosto e chouriço naquele fumeiro típico. Saímos com o estômago composto e o coração grato pela generosidade e simplicidade daquela senhora.

O acompanhamento com pão foi a nossa refeição! Parecia que estava em casa com uma avó que cuidava de mim, explicava-me a sua obra e dava muita atenção à minha degustação, feliz por me ver comer com prazer.

 

 

Foi um momento memorável na Bina – Cozinha Regional em Vimioso, é muito bom constatar que as tradições mais genuínas perduram  nos dias de hoje.