Millennials, primeira geração verdadeiramente globalizada

Conversando com jovens que pertencem a uma geração designada de “Geração do Milénio” também conhecida por “geração Y”, ou por Geração do “EU” (Generation “Me”), nascidos na década 1980 até finais da década 1990, disseram-nos considerar que:

Há uma grande diferença na maneira como as pessoas vivem agora o seu dia-a-dia em comparação com a forma como os meus pais viveram quando tinham a minha idade. A consciência sobre as questões ambientais, o tipo de alimentação e a aceitação da diferença entre pessoas surge cedo e mais facilmente. Obviamente a simplicidade com que nos movimentarmos pelo mundo ficando a conhecer culturas e locais diferentes e, principalmente o acesso facilitado à internet, veio mudar quase tudo. A maneira como as pessoas interagem, conhecem e partilham experiências é muito mais rápida. A evolução é natural ao ser humano e a tecnologia é uma parte dessa evolução. Por isso, considero que não há que ter medo ou, pensar de uma forma catastrófica sobre os efeitos da tecnologia no futuro, mas sim devemos aproveitar os seus benefícios que nos facilitam o dia-a-dia e nos ajudam na prevenção e tratamento de doenças.”

Estes jovens cresceram num mundo progressivamente mais global, com franco acesso às tecnologias, à informação digital e à comunicação em tempo real. Todas as gerações tem as suas particularidades mas esta é a primeira geração verdadeiramente globalizada!

O acesso facilitado à tecnologia que utilizaram desde a primeira infância, torna-se numa necessidade essencial para obter informação de forma fácil e rápida. Desenvolveram capacidades que lhes permitem estabelecer e manter ligações várias e relações pessoais próximas, ainda que à distância, partilhar experiências, trocar impressões, comparar, aconselhar e criar e divulgar conteúdos. Sendo uma geração informada, são mais preocupados com o ambiente e menos consumistas, surgem como a geração do Uber, do Airbnb, dos hostels, dos voos low cost, preferem a experiência à posse, percorrem o mundo como se estivessem em casa. Esta forma de estar e viver, faz transformar a economia com impacto nos sectores mais tradicionais.

Reunimos um grupo de jovens que se inicia no mundo do trabalho, tem vidas menos estruturadas que os seus pais tiveram e, muitas vezes, são obrigados a procurar trabalho fora do seu país, a quem pedimos um testemunho sobre a sua condição de jovens Millennials.

Sobre esta geração que está a iniciar-se no mundo do trabalho leia as entrevistas que fizemos as duas jovens e que publicámos em:

Inês Lopes

Inês Setas

 

À conversa com José Carlos Albino – Empreendedor

“… A imaginação, dirigida das coisas
É a aproximação possível dos eventos,
É a pré-anunciação do Ser…”

Poeta e empreendedor move-o a vontade de melhorar as condições socioeconómicas na região Alentejo, a partir de Messejana, Concelho de Aljustrel – Baixo Alentejo. Neste artigo partilhamos a sua história enquanto Homem dedicado e perseverante na construção de uma sociedade mais equilibrada, erguendo projetos de relevo para o desenvolvimento local.  

Para melhor caracterizar José Carlos Albino, na sua vertente de homem, empreendedor e concretizador de sonhos que sente “o brilho das coisas feitas” escolhemos um poema seu:

O SER DAS COISAS

Emprenha e faz nascer
Novas coisas.
A imaginação, dirigida das coisas
É a aproximação possível dos eventos,
É a pré-anunciação do Ser.

O Ser fertiliza-se.

A imaginação deita-se à terra,
Em terra certa,
Em sol espalmado,
Em nascentes a correrem
Em seu ritmo.

Mas, depois de ser,
Já és árvore,
As raízes ganham
A seiva da hora.

O Bicho é outro,
Acrescentado de si.

O Mundo é outro,
Porque ponto, o centro,
Outro eu, que já sente,
Já apalpa,
Já beija,
Já cheira,

Já respira,
O brilho das coisas feitas,
O som dos passos,
Doutros bichos,
A clareza
Do já está.

Assim aconteceu concretizar a vontade de intervenção para o desenvolvimento local, em Messejana

Reconhecer a importância das sociedades cooperativas

O regresso a Messejana-Alentejo, tem a ver que eu já com uma dezena de anos no Movimento Cooperativo de Produtores e muito pelo que me enriqueci com os parceiros europeus mais experimentados, constatámos que a ligação das cooperativas com as suas envolvências locais-territoriais se foram tornando uma exigência de intervenção.

Nesta lógica, logo em 1986, ano de entrada na CEE, as Federações candidataram-se a realizar os pioneiros cursos de formação de Agentes de Desenvolvimento. Foram cursos que coordenei e envolveram, em dois anos consecutivos, duas dúzias de formandos do país todo.

Do Projeto de Formação para o Desenvolvimento de Micro Regiões Rurais – Messejana, à criação da Esdime

É neste quadro que nasceu a ideia de conceber o “Projeto de Formação para o Desenvolvimento de Micro Regiões Rurais – Messejana – 88/90”. Apresentada a candidatura, o projeto piloto-experimental, foi aprovado pelo Fundo Social Europeu em Bruxelas.

E, assim, para dirigir este projeto prenhe de inovações, porque integrando na formação, a “Iniciativa Empresarial” e “Promoção da Cidadania”, em 7 diferentes áreas-setores sócio- profissionais, para 100 Formandos, toda orientada para o autoemprego individual ou de micro- empresas, de que resultaram uma dúzia de negócios e empregos qualificados em instituições e, talvez a principal, desde o início promovida, a criação duma organização que desenvolvesse o que o projeto tinha lançado (na altura, batizada como SDM – Sociedade de Desenvolvimento de Messejana), e é assim que em fevereiro de 1989 nasce a Esdime.

Constitui-se como a 2ª organização assumidamente para promover o Desenvolvimento Local no País, após a constituição no ano interior da “In Loco” no Algarve-Serra do Caldeirão.

O papel da Esdime no desenvolvimento local e na valorização da Mulher Alentejana

Começando a gatinhar, em 1990 ganha uma nini estrutura profissional, particularmente virada para o apoio técnico e psicossocial de desempregados com ideias de criar micro negócios. De 90 a 94 foram centenas de projetos elaborados, quase todos ao Programa ILE, quase único no país de apoio a estas iniciativas, com muitas dezenas de microempresas criadas no Baixo Alentejo.

A partir de 94, tendo a Esdime sido consultora em 1990-92 na fundação e programa Leader da “Terras Dentro” nas Alcáçovas, assume-se como Agência para o Desenvolvimento Local no Alentejo Sudoeste, arrancando com o Projeto VALEMA (Valorização da Mulher Alentejana), ao abrigo do Programa Europeu NOW (New Opurtunytis to Woeman) e logo de seguida com o Programa ALSud ao abrigo do LEADER 2 que abrangia 9 Concelhos.

A partir daí multiplicaram-se Intervenções e Programas de diversa índole, levando a Esdime a aproximar-se dos 40 colaboradores permanentes, nos inícios do século XXI.

Nas palavras do autor: “remar contra a maré”, o que exige perseverança, resistência e capacidade coletiva de propostas e reivindicações.

O Projeto inicial na primeira década da Esdime, contribuiu para a subida da autoestima coletiva, a criação de micro empresas que tiraram dezenas do desemprego, com o termos ajudado a abrir caminho para novas ADLs (Associações de Desenvolvimento Local), com as centenas de iniciativas e empresas que promoveram novas atividades, tudo, desde os tempos iniciais, me fizeram acreditar que estávamos no caminho certo, não obstante sermos confrontados com as políticas centralistas geradoras de ondas pesadas, que sempre nos obrigaram a “remar contra a maré”, o que exige perseverança, resistência e capacidade coletiva de propostas e reivindicações.

Os principais processos em que a Esdime teve papel relevante.

Na fundação em 1993 da Animar, Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Local, tendo estado no grupo que levou à sua criação e nas suas Direções nos primeiros 9 anos, duas vezes como vice-presidente e uma como presidente. A Animar foi muito relevante no agrupar e conjugar das ADLs e na conquista de posições e programas junto do Estado e Governos.

A outra em 1995, aquando da primeira crise da Esdime, provocada pelo chumbo do nosso Programa de Formação, o primeiro no Alentejo, decidido superiormente após todas as entidades do IEFP o terem proposto para aprovação. Perante a nossa Sessão de Denúncia em Beja, com a presença das principais organizações regionais, também elas vítimas de incumprimentos graves, constitui-se o Movimento “Baixo Alentejo a Uma Só Voz” com todas as organizações económicas, sociais e profissionais, que em resultado das suas ações viram muitas situações serem resolvidas.

Afastado da presidência continua empenhado em projetos de desenvolvimento Local

Em 2002 deixo a Presidência da Esdime e pouco tempo depois, por graves motivos de saúde, entro de baixa a que se segue a reforma por invalidez, deixando de ter qualquer responsabilidade nos destinos da Esdime. Contudo, enquanto Consultor, continuei ligado às questões do Desenvolvimento Local/Territorial, participando em Estudos e Projetos, de que relevo a coordenação do Plano Estratégico do Concelho de Aljustrel, via Agenda 21-Local, de que, também, resultou o lançamento das “Conferências de Aljustrel > Cidadania, Inovação & Território” em 2014, tendo-se já realizado 3 Edições, conforme poderão ver no SITE “Conferências de Aljustrel”.

Zé Carlos Albino, Messejana, 20 de setembro de 2018

 

Leia aqui a entrevista de José Carlos Albino e fique a conhecer o Poeta

O futuro: mobilidade elétrica? Inevitável!

Será que num futuro próximo vamos ter uma mudança no paradigma energético? A mobilidade elétrica vai ser mais uma realidade que irá substituir a atual – a dos combustíveis fósseis? O mundo passará a mover-se com energias mais limpas combatendo deste modo as consequentes emissões e pegada de carbono?

Declaração: Queremos este futuro no presente!

Na verdade, quase todas as marcas de automóveis já começaram ou estão em vias de construir, e outros a lançar os seus novos modelos movidos a eletricidade, mas a sua produção ainda é insignificante, não tem expressão. Quanto tempo ainda demorará esta revolução a acontecer? Quanto tempo mais temos de esperar? Quais os desafios que temos ainda de enfrentar e superar? Who knows?

Numa altura em que as condições ambientais são tão questionadas, em que se fala sobre as consequências calamitosas para a humanidade e para os sistemas que suportam a vida, devido às mudanças climáticas que estamos a provocar com o aumento da poluição, efeito de estufa entre outros indicadores, a opinião pública mais sensibilizada começa a insurgir-se e cada vez mais requer uma mudança de padrão.

A comunicação social há bem pouco tempo noticiou a ação interposta por um grupo de 10 famílias de vários países, incluindo Portugal, para o tribunal da União Europeia, contra alterações climáticas. Estas “Pessoas pelo Clima” insurgem-se contra as instituições europeias, por não fazerem tudo o que obrigatoriamente deviam para minimizar os impactos ambientais e travar as alterações climáticas.

A ONU tem vindo constantemente a alertar para as consequências das alterações climáticas no mundo inteiro. Recentemente um relatório elaborado por diversos cientistas sobre as alterações climáticas para 2030, apresenta um cenário catastrófico prevendo mudanças desastrosas no ecossistema mundial. E Portugal será um dos países da União Europeia mais afetado por essas mudanças.

O mundo tem até 2030, apenas 12 anos, para tomar medidas contra o agravamento do aquecimento global, no mínimo limitar em 1,5º Célsius o aumento da temperatura global. Caso contrário o nível das águas do mar sobe, com impacto nas chuvas e secas, o aumento da temperatura agrava a qualidade do ar e da água… e mais e muito mais.

Declaração: Queremos medidas contra o aquecimento global! 

A Economia Verde é a solução para a redução dos impactos ambientais. A mobilidade elétrica é um importante contributo para a mobilidade sustentável. É preciso acelerar a oferta de veículos com emissões zero e o incremento em larga escala de EV (electric vehicles), das infraestruturas e apoios necessários para a mobilidade humana se fazer em transportes amigos do ambiente.

Os Estados devem proteger os direitos fundamentais dos cidadãos, comprometerem-se a reduzir as emissões de gases com efeito de estufa e a promover políticas agressivas no sentido de descarbonizar o setor automóvel, que representa uma percentagem significativa das emissões de CO2.

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Declaração: Queremos usufruir de viaturas elétricas com emissões zero carbono!

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres avisou que “Se não alterarmos a orientação daqui até 2020, arriscamos consequências desastrosas para os humanos e os sistemas naturais que nos suportam”.

Acrescentou ainda António Guterres: “É imperativo que a sociedade civil – jovens, grupos de mulheres, setor privado, comunidades religiosas, cientistas e movimentos ecologistas em todo o mundo – reclamem a prestação de contas aos dirigentes”

Declaração: A equipa Hucilluc quer estar ativa e “condenar a paralisia dos líderes mundiais contra este fenómeno” tal como António Guterres advertiu!

Mas não se esqueça  – As suas escolhas diárias enquanto consumidor e as atitudes enquanto cidadão do mundo, também contam. 

Veja Aqui os dois artigos sobre o Energy Observer, embarcação movida a hidrogénio, (“Odisseia no mar num catamarã transformado” e “O Energy Observer continua a sua odisseia”). Esta é outra tecnologia que pode funcionar como uma alternativa viável ao combustível fóssil, pode ser aplicada na construção de carros com zero emissões, sendo que já existem comboios movidos a hidrogénio na Alemanha.

 

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Zero emissões. Carbono Zero

A Biodanza na perspetiva de Catarina Almeida

O reencontro com a alegria, a espontaneidade, o reforço da autoestima e também o prazer de viver e de se encantar com as coisas mais simples.

Os meios de comunicação social levaram-nos a conhecer Catarina Almeida que se dedica de corpo e alma a uma paixão a Biodanza. Deixa-nos um desafio experimentar esta prática que não tem contraindicações e pode ser realizada por pessoas de todas as idades. Leia  a entrevista e deixe-se envolver numa corrente de celebração, de respeito por si e pela vida em todas as suas formas.

“…um resgate do significado da vinculação com todas as formas de vida num ritual de celebração, da alegria de viver, do prazer de viver, da espontaneidade e descoberta, presentes a cada instante, do respeito por si mesmo, a par do vínculo com os outros, e também da harmonia e ligação ao sagrado que existe em toda a vida.”

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Nós: Biodanza a “dança da vida” pode explicar um pouco melhor este conceito?

Catarina Almeida: Bom, na verdade a ideia que fez nascer a Biodanza é muito simples e resultou da observação da sociedade e das pessoas e da urgência de devolver ao ser humano um sentido de sacralidade e de respeito por si próprio e pela Vida, em todas as suas formas.

Nesse sentido, o que Rolando Toro Araneda (Chileno que desenhou a Biodanza na década de 60) nos propõe é um resgate do significado da vinculação com todas as formas de vida num ritual de celebração.

Um resgate também das funções originárias da vida: da alegria de viver, do prazer de viver, da espontaneidade e descoberta, presentes a cada instante, do respeito por si mesmo, a par do vínculo com os outros, e também da harmonia e ligação ao sagrado que existe em toda a vida.

A Biodanza devolve-nos às heranças remotas da espécie humana em que todos os factos da vida eram celebrados: os nascimentos, as colheitas, as estações… pelo encontro com a dança, o canto e a música, onde esses momentos ganhassem significado pela união dos membros de um grupo.

Nós: Qual a sua história ou como surgiu esta proposta inovadora de dança?

Catarina Almeida: Para mim a Biodanza foi um amor à primeira aula. Estava num momento de grande transformação e mudança na minha vida: por um lado estava um pouco perdida e por outro sentia em mim uma enorme coragem para fazer escolhas novas e diferentes.

E a aula que fui experimentar era sobre o Tigre, um dos 4 animais que dançamos e que, em Biodanza, representa a qualidade de foco, de ação ousada e inteligente, de assertividade e disposição para assumir as próprias escolhas.

Não queria acreditar no que vivi, dancei e me fez perder essa noite de sono. Mas não era para menos: aquela noite no verão de 2010 ainda hoje tem um imenso impacte na minha vida.

O que mais me surpreendeu e encantou nessa primeira experiência foi o ambiente alegre e genuíno, espontâneo e simples que nunca tinha encontrado igual (e ainda hoje sinto assim). Senti-me acolhida e livre para ser eu mesma. Foi um momento extraordinário que é sempre capaz de me comover.

Nós: E qual a sua importância para o corpo e mente do praticante?

Catarina Almeida: Na verdade toda a prática da Biodanza tem por objetivo a integração da Identidade humana, entendida como diálogo coerente entre o que penso, como comunico, como me sinto e como ajo. Ou seja, encontra-se a coerência e a harmonia entre corpo e mente mediados pelo coração.

Parece simples mas muitos de nós experimentamos o que em Biodanza chamamos de dissociação: sentimos uma coisa mas fazemos outra, dizemos uma coisa mas agimos noutro sentido. E para muitos, só chegar a perceber isto já é uma incrível descoberta.

A valorização excessiva das competências mentais e o ritmo de vida alucinante são os responsáveis pelas nossas doenças: o esgotamento, o burnout, os problemas de sono e por aí fora… têm a sua origem na falta de escuta do corpo, dos seus tempos e da sua inteligência própria.

Parece-me que para muitos de nós o dia-a-dia está cheio de coisas para fazer e à minha volta escuto sobre o cansaço, as rotinas e agitação constantes, as listas de coisas para fazer sempre maiores que os dias. Por outro lado, levamos um estilo de vida sedentário e muito parado.

Dançar traz alegria, liga-nos aos nossos ritmos e tem reflexos rápidos na saúde, no sono e na atenção a si mesmo, o que leva a um maior autocuidado e à descoberta de novos recursos e respostas.

Nós: Como pode a Biodanza desenvolver o lado emocional de quem pratica esta arte?

Catarina Almeida: Quando se pratica Biodanza como processo de desenvolvimento vivencial fica favorecido o acesso a potenciais e à compreensão de nós próprios que vão muito além da experiência do quotidiano, onde podem permanecer adormecidos.

Apesar das aulas terem uma forte orientação metodológica, na verdade elas são únicas e diferentes todas as semanas, o que faz de cada encontro do grupo uma experiência nova e uma surpresa.

Também por isso, dançar não é uma experiência rotineira e traz uma sensação de renovação e de bem-estar que se reflete no ânimo e boa disposição, no meu olhar perante a vida.

Como primeiras conquistas são experimentadas a redução do stress, o aprender da própria regulação entre ação e descanso e o reencontrar de uma real sensação de harmonia orgânica e de bem-estar. Daqui surge o reencontro com a alegria, a espontaneidade, o reforço da autoestima e também o prazer de viver e de se encantar com as coisas mais simples.

Não é invulgar surgirem formas de elaboração e de expressão criativa ou mesmo artística para surpresa dos próprios… Surge ainda uma nova relação consigo mesmo desde esses novos lugares que se reflete naturalmente na relação com os outros e numa ligação ao maravilhoso e sagrado da vida.

Nós: Como pode uma dança “induzir modificações existenciais”? Como pode esta técnica para além de renovar energias, estimular a criatividade e resgatar a essência do ser humano?

Catarina Almeida: Com o tempo e com uma prática regular de Biodanza aprende-se a traduzir os elementos da própria vida em movimento e acede-se à experiência coerente do próprio processo existencial: eu vivo como eu danço e eu danço como eu vivo.

É nesta ponte entre dança e vida que eu conquisto a capacidade de escolher e empreender mudanças existenciais, porque me conheço, me experimento e daí surgem decisões sobre o que é positivo para a minha vida.

O meu movimento e a minha dança informam-me sobre mim própria numa verdade que se reconhece em vivência. O conceito de vivência devolve-me ao presente do aqui e agora e neste momento o meu movimento é pleno de sentido, é a experimentação real, inteira e intensamente vivida de contacto com o profundo, subjetivo e irrepetível que é a própria Vida.

Depois desta experiência e da sua verdade intrínseca eu aprendo sobre mim e passo a reconhecer, a saber o que é bom e o que não é bom para mim naquele momento da minha vida. Está aqui a origem das escolhas que depois faço.

Nós: Pode enunciar ou descrever alguns dos benefícios que esta atividade propícia para a saúde bem-estar dos praticantes?

Catarina Almeida: Apesar de ter efeitos terapêuticos, a Biodanza não pode ser classificada enquanto terapia pois não parte de um diagnóstico externo.

Estão cientificamente comprovados vários dos seus benefícios, tanto físicos como psicológicos, e as principais melhorias reportadas dão-se a nível dos sistemas orgânicos e psicomotores: metabólico, neurovegetativo, endócrino e imunológico, assim como a nível psicológico: emocional, afetivo e relacional.

Estes são os principais benefícios que pode trazer uma prática regular de Biodanza:

  • Melhora a qualidade de vida, aumenta a saúde geral, a sensação de harmonia orgânica e bem-estar;
  • Resgata a motivação, a alegria e o prazer de viver, amplia capacidades motoras e aumenta a energia vital;
  • Fortalece a autoimagem, a autoestima e a expansão da confiança em si mesmo e facilita o reencontro com a expressão da espontaneidade e da autenticidade;
  • Estimula a comunicação e a expressão dos sentimentos de forma integrada e amplia a consciência e a perceção de si, do outro, do espaço e do tempo;
  • Cria um espaço protegido para o autoconhecimento, para identificar desafios, superar dificuldades e alterar comportamentos e o desenvolvimento integrado da identidade e dos próprios potenciais;
  • Motiva a exploração criativa, a experimentação e a capacidade de expressão pela arte e apoia a capacidade de buscar novas possibilidades, acolhe a mudança e a realização pessoal;
  • Desperta uma nova ecologia humana baseada na escuta, cuidado e amorosidade nas relações e nutre a criação de um contexto afetivo vivencial positivo e de pertença a um grupo;
  • Incentiva uma nova forma de relação com a natureza e com toda a Vida, baseada no amor.

A prática regular leva a uma reavaliação de hábitos e comportamentos quotidianos e permite alargar a perceção e encontrar novas atitudes e estilos de vida mais saudáveis.

Nós: Como é composta uma aula de biodanza? É necessário ter alguma aptidão particular para a prática desta dança?

Catarina Almeida: Para vos dizer a verdade é bem mais fácil dançar do que explicar! E é tão simples que nem sequer é preciso saber dançar: o que é convidado a aparecer é o movimento natural que responde à música e ao grupo e assim ficam fora da sala os padrões estéticos e a procura pela “resposta certa” ou “bonita”. A dança e o dançarino estão em presença e de mão dada com a totalidade da própria vida humana.

A Biodanza não tem contraindicações e pode ser praticada por pessoas de todas as idades.

Nós: “Trata-se de aprender a ‘dançar a vida’ e descobrir o ‘prazer de viver’” Pode comentar esta citação de Rolando Toro, antropólogo, psicólogo, pintor, professor, poeta chileno e o criador da Biodanza?

Catarina Almeida: Quando me perguntam “mas afinal de contas o que é a Biodanza?” pois não tenho facilidade em responder: não é um desporto, não é uma terapia, não é uma arte performativa e seguramente não é uma religião.

Mas é sem qualquer dúvida uma proposta de genial simplicidade, integrada e inovadora, que junta conhecimentos da Ciência com a abordagem singular da Arte. O foco está em viver – aqui e agora e aí se encontram os valores essenciais de cuidado pela vida.

Rolando Toro Araneda percebeu a nossa falta de conexão com o essencial em nós, enquanto indivíduos e enquanto espécie e daí a sua genial criação que tem dado a mim e a muitos outros pelo mundo inteiro o argumento que faz da nossa Vida a Arte Maior: a Arte de Viver.

Deixe-se inspirar assistindo ao vídeo de Catarina Almeida